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quinta-feira, 10 de junho de 2010

Discriminação linguística


Minha cara Tertúlia!


Confesso-me nobrecido em me dirigir a vossas excelências. Caso estejam a celebrar seu desjejum na sua casa revestida de palombino palmirim, enquanto exsolve açúcar no seu café, peço desculpas pelo transtorno, mas suplico para reservarem um minuto de suas atenções para o macavenco, porém eivado de inadotabilidade que aqui vos fala.


Há algo nitidamente nidoroso neste país. Idealistas no estrado bradando contra o paradoxo entre apacatados e camumbembes, ou entre pálidos e nigérrimos, mas a denúncia de hoje não está devidamente explorada, até porque muitos dos idealistas d’antes citados não concordam com ela – a discriminação linguística.


Sempre houve a expressão norma culta ensinada por nossos professores na nossa infância. Sempre fomos cobrados para dominar e saber essa tal de norma culta, que é, na verdade, uma das formas de distinguir quem sabe escrever, tem cultura e dinheiro, salvo exceções, do povão, que tem a norma informal de escrever e falar.


De fato, quando se busca a leitura de um texto, busca-se construções de frases de deem dinâmica ao texto, fazendo com que o transcorrimento da leitura seja natural, fácil. A qualidade da escrita se encontra aí.


Mas a linguagem rebuscada, repleta de palavras em desuso, transforma-se em um verdadeiro código. Dominando esse código, sua nota 10 em Português é garantida. O vestibular exige o conhecimento dele, ao requisitar a leitura de obras do Séc. XIII ou XIX. São obras muito bem escritas, considerando a colocação de palavras na frase, mas frisa-se: foram escritas no Século XIII – quando não havia carro, avião, rádio, televisão, internet, globalização. Outro mundo. Outra escrita.


E outra: quem é que chega na Estação da Sé e fala para o atendente: “Eis meus 3,00 R$. Noto que falta 0,45 centavos de troco. ah! Aqui está. Obrigado por vossa dedicação”?


O preconceito lingüístico está para o preconceito como a porta de entrada está para a casa. Pessoas privadas de instrução são prejudicadas com ele, combinando diretamente com faltas de oportunidade. Normalmente, pessoas migrantes sofrem com isso – vem de outra região, cujo idioma é outro e o sotaque é extremamente diferente.


E não pense que somente pessoas discriminam. O Estado também discrimina: a prova disso é o Hino Nacional, incapaz de ser compreendido, até mesmo por quem estuda. Como a classe mais alta na hierarquia social brasileira sempre esteve no poder, o poder sempre falou como ela fala.


A necessidade de uma mudança é imediata. Mesmo porque cria uma loucura dentro do Brasil: dois idiomas de mesma origem em uma só nação. O ensino deve pregar um português único, o qual, obviamente, teria suas variações de gírias, pronúncia; os livros menos codificados, chega de obra que usa Vós como pronome – quem quiser ler, leia por prazer, mas nunca por obrigação.

A batalha contra a discriminação linguística é um grande passo para a batalha contra demais preconceitos: pobres, nordestinos, índios. A luta pela aproximação do idioma é uma parte da luta pela aproximação das pessoas.

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