Explorando temas.

Textos sobre temas polêmicos, política, humor e opiniões

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Telmo Polleto

Telmo Polleto era unanimidade na cidade, quase uma vila, chamada de Piracuíba. Começou professor, idealista, concorreu à política logo jovem. Sua retórica simples, com simpatia de tratar o piracuibano como seu amigo de infância, conquistaram os moradores, que o elegeram para prefeito da cidade, com votação histórica.

E em Piracuíba permaneceu. Foi prefeito, vereador, secretário, prefeito de novo. Ao chegar nos seus 50 anos, o escândalo estourou. O Diário de Piracuíba denunciou que Telmo era, na verdade, corrupto. Superfaturava obras a preços incríveis, e estima-se que a fraude trouxe um rombo de centenas de milhares de reais aos cofres públicos. Seu esquema envolvia assessores, secretários, delegados, juízes, promotores e até o padre da cidade.

No dia seguinte à denúncia os jornalistas lotaram o salão de entrada da prefeitura. O que será que ele irá dizer sobre as denúncias? Se declarará inocente? – o fervor para uma declaração do maior ícone político piracuibano era intenso. Disseram que havia até um repórter regional entre a imprensa.

Eis que apareceu o prefeito, cercado por advogados da capital. Nos mais revoltados, houve o sentimento que a máscara caiu - nota-se um sorriso instantâneo forjado combinado com uma gordura farta e corporativista. O que antes era experiência passou a ser cabelos brancos indicativos de senilidade. No entanto, embora a ficha de alguns tenha caído, Telmo gozava de 70% de popularidade. A maioria acusava a reportagem de forjada, que onde já se viu tanta calúnia contra nosso ídolo.

O prefeito sobe ao palanque e revoltado diz que aquilo era uma mentira, suja, cruel, e anti-piracuibana. Negou jurando pela saúde dos filhos que nunca foi corrupto e nunca será, e mais, com ele a cidade poderia dormir tranquila. O povo, por sua vez, se sentiu aliviado, as autoridades mais ainda, a denúncia na hora ficou no passado, e tudo, naquele instante voltou ao normal.

Ao voltar à sua sala com o gosto de vitória, Telmo entra para beber a boa cachaça da região com seu melhor amigo e braço direito, Valério Bastos. Enquanto o prefeito se vangloriava de sua habilidade política, de como tinha conseguido desmascarar aquele jornal filho de uma égua, Valério ficou por um momento cabisbaixo e admitiu:

- Mas Telmo aquelas obras... Nós fomos corruptos.

O prefeito, percebendo o arrependimento de seu maior confessionário, deu dois tapinhas consoladores na coxa, incorporou sua retórica e com uma voz serena, autêntica, e didática, corrigiu:

- Reconhecidos, meu amigo, reconhecidos. Justamente recompensados por anos de serviços prestados à comunidade.

Valério se tranqüilizou. Afinal, ele não roubou, ele foi recompensado.

Nenhum comentário:

Postar um comentário