Explorando temas.

Textos sobre temas polêmicos, política, humor e opiniões

domingo, 13 de março de 2011

Estágio de Direito x cricris

Caros colegas,

O acadêmico do curso de direito é um dos que mais cedo começa a trabalhar. Há colegas que logo no primeiro semestre compram seu primeiro(a) roupa social/terno – este último é usado, na maioria das vezes, completamente fechado, com a gravata impecável até às 11h da noite (!) – para começarem em seu primeiro escritório/estágio público.

Logo nos primeiros tempos tem-se o contato com chefe, responsabilidade, colega estagiário pentelho, stress, horário de trabalho, enfim, quando você pensava que sua vida no colegial ou cursinho era dura, o curso de direito te despeja no mercado de um trabalho essencialmente formal.

Lógico, há trabalhos e trabalhos (essa frase genial eu acabei de inventar). Se tem alguns que são sossegados, tranquilos, tem outros que a correria é pura. Pior do que corno é o infeliz que criou a lei do estágio. Esse cacique não apita nada. Tenho colegas que trabalham oito horas durante o dia e voltam de madrugada, depois da aula, para continuar até o raiar do sol.

Você, mais indignado com essa situação, pensa: “Mas porque é que o louco do estagiário trabalha desse tanto?”. Pensando no tema, só consegui achar clichês, o famoso ditado - tem louco pra tudo – o qual combinado com outro – passarinho que come pedra sabe o c. que tem – me dá uma ideia de como pessoas aguentar trabalhar tanto, em ambientes excepcionais, é claro.

O pior é saber que com tudo isso acontecendo, nas oportunidades cada vez mais competitivas, forçando o estagiário a trabalhar até mais tarde em certos dias, tem professores que talvez se esqueceram da época em que foram alunos, ou nunca trabalharam em escritório, ou são cricris demais mesmo, ao determinar que depois das 7 horas da noite ninguém entra na sua aula – o que, parece-me, um dos maiores defeitos na didática da nossa Universidade, crítica feita, obviamente, ao período noturno.

Porque não se enganem, caros colegas. Caso vocês nunca tenham trabalhado na vida, saiba que o esporro é como uma pirâmide. Você, estagiário, é a base, e no topo está o seu chefe master, junto com alguma besteira que algum infeliz fez. O esporro vai descendo dele, passando por escalas hierárquicas, até que chegam ao que na Índia chamam de dalit (ou alguma coisa nesse sentido – fruto de muito Caminhos da India). E quando a bomba estoura, muitas vezes, não tem jeito de estar no Prédio do Mackenzie às 6h30min pontualmente.

De alguma forma, a culpa poderá respingar em você, considerando a variável do chefe que possui. Caso seu chefe é o tranquilão(ona), ótimo e esses dois últimos parágrafos não são para você. No entanto, se o seu chefe for a Miranda de O diabo veste prada, aposto que entendeu o tratado aqui.

Gostaria de esclarecer que não é nenhuma velha ranzinza que está escrevendo aqui. Estágio é muito bacana: aprendizado, risada o dia inteiro com os seus colegas, amadurecimento nas ideias sobre o Direito. Tem muita coisa boa, e a balança é, certamente, positiva.

No entanto, é inegável que a função do estagiário tromba com a metodologia da Universidade. É verdade que só no Brasil que as pessoas trabalham tão cedo, e que o ensino deve ser levado, impreterivelmente, em primeiro lugar. Mas, considerando que residimos justo no país onde o estágio é muito mais precoce do que em outros lugares, uma reavaliação de alguns professores no modo de conduzir sua aula seria muito bem vinda.

quinta-feira, 10 de março de 2011

Um papo sobre Vânias, E.T. e tudo mais.

Caros colegas,

Quantas palavras, no mínimo, esquisitas nós escutamos, aprendemos, e pior, repetimos no nosso curso de direito.

Para começar, eu peço data venia. Que porcaria de expressão é essa? Data venia? Próximo disso só minha tia Vânia, que acho que não conhece nenhuma prima “venia” para contar história. E o pior: sempre que nós, estagiários mortais, discordamos de um pensamento em alguma petição, que será radicalmente modificada, colocamos no texto data venia. Ou pior ainda: data maxima venia.

Vânias ou venias pedidas, vamos explorar esse tema infinito. Mais um exemplo: quando, em direito comparado, o professor ao citar ordenamento estrangeiro diz – “direito alienígena”. Essa não desce! Não te dá uma sensação de que ele está falando de Marte? Alienígena pra mim é E.T. Ponto. Direito alienígena, alienação fiduciária, alienação parental: tudo coisa de Saturno.

Tem outra que eu critico, mas ninguém se importa. É a palavra bojo. O professor diz: está no bojo da Constituição. Além de lembrar nojo, essa palavra me lembra um filme do “Austin Powers”, em que o “Dr. Evil”, junto com o seu comparsa “Mini me”, toma o bojo do espião e fica extremamente sensual para todas as mulheres. O filme é bem cretino, mas só essa cena já vale o ingresso.

Agora o pior. No quinto semestre, nós aprendemos em direito civil que o locatário tem muitos direitos: usufruir, dispor e “gozar” do bem. Eu sei que é infantil, é bobo. Mas sempre que a palavra “gozar” vem na minha cabeça, penso na aula de Educação Sexual no colégio. Se alguém falava “gozar”, ou qualquer genitália, palavra do gênero, era pura gargalhada. Coisa de rodinha de muleque de sétima série, entretanto, aquela risadinha fica no fundinho da sua mente até os dias de hoje, ainda que, devido ao mínimo de maturidade, você não ache mais muita graça.

Mas vamos combinar: tem necessidade de “gozar”? Não poderia ser “aproveitar”? Sei lá, qualquer coisa. Agora, que fica feio falar “A pessoa usufruiu, mas não gozou” fica. Até politicamente incorreto.

Logo, Excelentíssimo (ou “esse lentíssimo”?) colega, são só apenas algumas palavras toscas, que nós mecanicamente repetimos ao longo do curso. Lógico que não mencionei quase nada – vale lembrar que tem algumas que são simplesmente feias, caso da coitada da palavra “endosso”. É feia. Tadinha. Como se vê, leque de palavras não acaba. Aposto que você achará uma.