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terça-feira, 29 de novembro de 2011

O Julgamento do Jardim Planalto

Passava das onze e meia da noite do dia vinte e sete de novembro de dois mil e onze, quando Edmilson dos Reis Alves, motorista de ônibus exemplar da empresa Via Sul, fazia seu último percurso do dia, já pensando em ir para a casa.

Sua esposa, Digeane da Silva Alves, naquele dia, especialmente, não seguiu a rotina em acompanhá-lo no último percurso, pois tinha que acordar cedo no dia seguinte. Por outro lado, o cobrador, Rogério dos Santos, não só estreava na linha, como também no seu primeiro emprego.

Enquanto passava no Jardim Planalto, bairro periférico de São Paulo, Edmilson teve um mal súbito, desmaiou e perdeu o controle do veículo que bateu em três carros, três motos e ainda atropelou uma pessoa. Como se não bastasse esta tragédia, veio o grande azar da vida do motorista: tudo isso aconteceu ao lado de um baile funk com trezentas pessoas bêbadas e furiosas.

“Ele está bêbado, o safado quase matou o menino!” – alguém gritou. De repente, cerca de quarenta pessoas se dirigiram ao encontro do pobre homem desmaiado, e o sentenciaram: este vagabundo, que pega o carro embriagado arriscando a vida dos outros, merece morrer.

Não coube recurso e a execução foi imediata. Quarenta pessoas lincharam aquele homem, cujo desmaio ocorreu por uma dessas tragédias da vida, até que ele não pudesse respirar mais. O extintor de incêndio localizado embaixo do banco foi a principal arma, ficou destruído diante da sequência de poderosos golpes desferidos por um justiceiro qualquer.

Todos foram embora, menos Rogério, inexperiente cobrador, o qual viu aquela barbaridade, acuado, no fundo do ônibus, incapaz de enfrentar quarenta pessoas com sede de sangue.

O curioso é que o caso ganhou repercussão na mídia. Nenhum dos quarenta promotores/juízes/carrascos se identificou assumindo o “erro de julgamento”. Nenhum deles, que se sentiram tão à vontade para condenar uma pessoa sem direito de defesa, quis ser julgado. A histeria coletiva combinada com a violência sem limites teve um final feliz.

Menos a pobre Digeane, a qual teve que enterrar o marido, presumidamente culpado e executado brutalmente, por crime que não cometeu.

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