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quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Rita Lee

Muitos e muitos anos antes de eu nascer, na década de 60, em plena ditadura, uma jovem só causava dor de cabeça na família. Não fazia nada com nada, não queria nada além do que na época era o motivo de medo e vergonha: ser música.

“Foi quando meu pai me disse: Filha, você é a ovelha negra da família”.

Aquela jovem rebelde se aventurou na música brasileira. Junto com outros quatros músicos, formou o grupo “Os mutantes”, tocando uma forma inovadora de rock’n roll tupiniquim, regado a sexo e drogas, os quais, combinados à música, sempre geraram grandes talentos.

Anos mais tarde - não sei ao certo se ela já usava o cabelo Chanel tingido de um vermelho forte, quase brilhante - a promissora jovem se divorciou da banda. Rita Lee foi para a carreira solo, cujos frutos são ouvidos até hoje. É engraçado pensar que a ditadura censurava conteúdos musicais e não havia, portanto, liberdade. Porém, o efeito se tornava o oposto do desejado. Ao que parece, quanto mais controle, maior criatividade o artista precisa ter para driblar as formas de repressão. Mais rica de significado fica a canção.

Enfim, mais do que simplesmente tocar rock, Rita, conhecida já como a “Rainha do Rock Brasileiro”, foi além – misturou o estilo com outros, de pop-rock à música latina, criando um hibridismo que revolucionou a música nacional e ganhou muitos fãs – Rita Lee vendeu, ao longo da carreira, mais de 50 milhões de cópias.

As primeiras memórias que possuo de Rita Lee remontam à minha infância. Minha mãe tinha alguns cd’s da cantora e sempre os colocava para tocar quando pegávamos estrada. Como a família morava longe, os cd’s tocavam muito. Algumas músicas me marcaram mais, outras nem tanto, mas o que sempre ficou claro é que cantoras como ela estão em extinção. A sensação que dá ao ver um show de Rita é do que idealizamos quando pensamos em Rock.

Vi um de seus últimos shows, no Teatro Bradesco em São Paulo. Já havia quase alcançado 50 anos de carreira, passado por tudo o que minha mente pode imaginar e ido além. Lembrou-me um pouco Ozzy Osbourne, já um idoso que conservara a rebeldia, mas sem muito pique para ela.

Mas foi no seu show de despedida que Rita pôs toda sua energia em palco para lembrar sua carreira inteira em pouco mais de duas horas. Cantou, xingou policias de cachorros e filhos da puta, pediu um baseado para fumar no palco, cantou de novo, xingou de novo, xingou o chefe dos policiais, elogiou a neta e saiu de lá presa.