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sexta-feira, 9 de março de 2012

Chico Buarque de Holanda

O maior compositor brasileiro do Século XX, Chico Buarque tem uma estranha habilidade de te fazer feliz, inteligente, ativo, descontraído, tudo na mesma música.
Seu auge de produção se deu em plena censura ditatorial, quando se prendia e matava por "delitos de opinião".
Por mais de muitas vezes, fez claras críticas ao regime. Um dia, um pragmático chegou ao pé do ouvido do general e disse – “Vamos matá-lo”.
Pena que não havia como, sua música é imortal.

Construção

Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido
Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego


Chico Buarque